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Morre homem que ficou ferido após casa pegar fogo em São João da Barra

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Jornal O Globo: sem investimentos, Rio Paraíba do Sul, que abastece 13 milhões de pessoas, sofre com esgoto e favelização
PUBLICADO POR: LEONARDO FERREIRA | PORTALOZK.COM - 10/01/2022 - 12:47

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“Este rio é tão vivo quanto você”, afirma Silvio de Alcântara sobre o Paraíba do Sul. Mas também é um curso d'água que “deixou de ser natural, hoje controlado, explorado e sugado pelo homem”, pondera Juliana de Carvalho. Ambos participam do documentário “Caminho do Mar”, que da nascente à foz revela um diagnóstico deste que abastece cerca de 13 milhões de moradores de cidades do Sudeste brasileiro. Areeiro artesanal no interior fluminense, ele é personagem do filme. Ela, produtora e idealizadora do longa-metragem. E, com conclusões que poderiam soar antagônicas, os dois sintetizam aspectos hoje determinantes do que é considerado “o rio da economia nacional”.

No momento em que se inicia um novo ciclo de investimentos em saneamento básico no Estado do Rio — onde, apenas na Região Metropolitana, cerca de 9,4 milhões de pessoas recebem nas torneiras águas transpostas do Paraíba do Sul —, todo socorro à pressão que se exerce há séculos sobre o rio é urgente. O quadro a se mitigar é mostrado no filme, monitorado por especialistas e que está descrito no Plano Integrado de Recursos Hídricos recém-aprovado pelo Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Ceivap), que prevê uma agenda de ações para os próximos 15 anos.

Atualmente, apesar de o rio ser fundamental ao abastecimento até da metrópole de São Paulo, o lançamento de esgoto continua sendo uma das principais fontes de poluição do Paraíba do Sul. Apenas 41,3% do esgoto dos municípios que compõem a bacia, segundo o documento do Ceivap, são tratados. Os lixões, que contaminam o lençol freático, ainda são cerca de 15 na região, que recebem 26% dos resíduos sólidos coletados. Às agressões, o Paraíba do Sul reage com extremos. Só entre 2015 e 2020, foram 681 ocorrências de enxurradas, alagamentos e inundações na bacia. Enquanto isso, a escassez hídrica gera preocupação, com crises em 2004 e entre 2014 e 2016, impactando nos níveis de armazenamento dos reservatórios da região.

De costas para o rio
Na produção do “Caminho do Mar”, foram percorridos 1.150 quilômetros, em quatro viagens. Juliana conta que se deparou com áreas assoreadas, com formação de dezenas de ilhas no curso do rio; margens desmatadas, em manchas de secura no Norte e Noroeste Fluminense; e lugares que parecem ter virado de costas para o Paraíba:

— Há cidades em que há uma intensa favelização à beira do rio, com as casas construídas de frente para a rua e fundos para o Paraíba do Sul, todas com seus caninhos despejando esgoto. É como se quisessem esquecer que o rio existe.

Em Barra Mansa, no Médio Paraíba, são várias as vizinhanças em que um paredão contínuo de casas tampa a visão do rio. Em bairros como Vista Alegre e Vila Brígida, os imóveis mais próximos do leito apontam para a água o encanamento por onde desce o esgoto. Outras lançam os dejetos em valões e redes pluviais que deságuam no Paraíba do Sul. Um desses veios fétidos corre por baixo da rua e escorre nas margens do rio ao lado da casa onde Eliane Nunes de Jesus, de 45 anos, mora e tem seu salão de beleza. Há quase quatro décadas vivendo no mesmo endereço, ela percebe as alterações de longo prazo no rio.

— Vim para cá criança. A casa não tinha quintal. Hoje tem, conforme o rio foi recuando — conta ela, que vive um paradoxo para quem abre a janela de casa diante do manancial que abastece tantas cidades. — Vejo de tudo descendo o rio, de sacolas de lixo e bichos mortos a cadáveres humanos. Acho que por isso não tenho coragem de beber a água do Paraíba do Sul, mesmo que chegue à minha casa tratada. Para beber e cozinhar, compro galão de água mineral.

Lixo flutuante
Rio abaixo, em Barra do Piraí, o pintor Lauro José da Silva, de 33 anos, mora perto da barragem de Santa Cecília, onde dois terços do Paraíba do Sul são desviados para o sistema do Rio Guandu, que abastece a cidade do Rio e grande parte da Baixada Fluminense. Ele relata que não é raro as proximidades do local serem tomadas de lixo flutuante acumulado. Toda sua família e ele já viveram da pesca no Paraíba do Sul. Mas hoje, pela escassez de peixes e essa poluição, todos abandonaram o antigo ofício.

— Na infância, nadei neste rio. Hoje, tenho meus filhos, e explico sempre a eles que não se pode jogar lixo no Paraíba — diz Lauro.

Diretor do Ceivap e do Comitê Baixo Paraíba, o técnico da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) João Gomes Siqueira aponta justamente o trecho após o desvio de Santa Cecília como um dos mais críticos do Paraíba do Sul. Ele lembra que, com menos vazão no rio, o esgoto fica mais concentrado, e as próximas contribuições importantes de água que aumentam a vazão do Paraíba do Sul só ocorrerão em Três Rios, onde deságuam os rios Paraibuna e Piabanha.

Outro trecho preocupante, diz ele, é a foz do Paraíba do Sul, em Atafona, em São João da Barra, no Norte Fluminense. Ele ressalta que, antes, a água do mar na região adentrava cerca de quatro quilômetros do rio. Mas, com as menores vazões do Paraíba, a barra salgada tem chegado de oito a dez quilômetros da foz, afetando o abastecimento:

— A captação da água que abastece o Centro de São João de Barra fica a quatro quilômetros da foz. Nos dias de maré alta, com a água salobra ultrapassando esse ponto, essa captação precisa ser interrompida, e a população sofre com a falta de água.

Com a privatização da Cedae, a concessionária Águas do Rio assumiu os serviços de água e esgoto nos municípios de Itaocara, Cambuci, Aperibé e Miracema, no Noroeste Fluminense, e em São Francisco do Itabapoana, na região Norte do estado. E afirma que investirá mais de R$ 423 milhões nesses municípios de sua área de abrangência que contribuem para a Bacia do Rio Paraíba do Sul. *A informação é do Jornal O Globo


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