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Sem o petróleo, Norte Fluminense não consegue superar a crise
PUBLICADO POR: LEONARDO FERREIRA - 11/09/2016 - 14:31

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Vende-se. Aluga-se. Passo o ponto. Esses são os textos que se repetem em vários estabelecimentos comerciais e residenciais de cidades do Norte Fluminense. O tempo de fartura dos royalties do petróleo passou. E o legado mal aproveitado do "ouro negro" foi o desemprego, orçamentos municipais reduzidos e perspectivas pouco animadoras para cidades como Campos, Macaé e Rio das Ostras, visitadas pela CBN nesta semana. 

O analista de sistemas Gledson Braga trabalhou 12 anos na gestão de projetos de empresas ligadas à Petrobras nas cidades de Campos e Macaé, no Norte Fluminense. Duas cidades que viveram a abundância do dinheiro do petróleo, e hoje convivem com o desemprego, orçamentos enxutos e falta de perspectiva. Gledson foi demitido há dois anos e, sem planos de continuar no setor de petróleo, precisou se reinventar e investiu na pizzaria que abriu em Rio das Ostras, outra cidade da região.

- Aquele que não se reinventa diariamente não sobrevive no mercado. Quando falo em reinventar, é mudar a filosofia de pensamento, saber lidar com o funcionário, é você desenvolver novas metodologias de trabalho dentro do seu próprio empreendimento -  acreditou Gledson. 

Quando ainda era empregado da Petrobras, Gledson e o sócio Felipe Soares perceberam que a maré não estava para peixe. Na contramão da gestão de Campos, Macaé e Rio das Ostras, o agora ex-analista de sistemas conseguiu prosperar, apesar do desaquecimento do mercado, provocado pelo desemprego. Sem perspectiva de voltar a trabalhar na área em que é especialista, Gledson conta que o investimento virou sobrevivência.

- A minha experiência foi sempre na gestão de pessoas, processos e trabalhando na área de projetos off-shore. Não me imaginava transformar meu empreendimento em fonte principal: sempre foi a fonte secundária, para ser o investimento, não a sobrevivência -  relembrou. 

Manter um negócio aberto em meio a crise é um desafio, especialmente no Norte Fluminense. Junto com a redução do valor do petróleo, e a consequente diminuição dos roylaties arrecadados pelas prefeituras, a produção entrou em declínio: em 2009, a região produzia 85% do petróleo brasileiro, mas esse percentual caiu para 67,9% em 2015. Em Campos, a prefeitura decretou emergência econômica depois que o pagamento de royalties e participações especiais foi reduzido em 46%. O atoleiro reflete uma prática comum nas cidades da região, segundo o economista da Universidade Estadual do Norte Fluminense Alcimar Ribeiro: são gestões frágeis, há inchaço da folha de pagamento e dos gastos públicos.

- Esses municípios ficaram sentados na expectativa da vinda de royalties. E gastaram mal esse dinheiro, ampliaram sua estrutura. Na percepção deles, de repente isso cessa. Cessa uma parte importante, tem uma queda. Como não foi feito nada, foram pegos de surpresa - analisou o economista. 

No entorno da pizzaria de Gledson, dezenas de lojas estão fechadas. Reflexo do desemprego, principal resultado da crise do petróleo no Norte Fluminense. Macaé foi a cidade onde esse efeito mais foi sentido: 12 mil empregos foram cortados em 2015 e mais 8 mil até agosto deste ano, segundo o Ministério do Trabalho. Na entrada, uma placa anuncia que se está na "capital nacional do petróleo", mas os galpões abandonados, portas fechadas e ruas desertas mais lembram uma cidade fantasma. A saída da crise pode estar, como encontrou Gledson, na abertura do próprio negócio. Mas a analista Silvia Andréa, do Sebrae, diz que boa parte das empresas abertas em contexto de crise tem dificuldade em prosperar. 

- Atualmente está meio desesperador. A pessoa é mandada embora e de imediato quer abrir um negócio sem entender nada. Sai de uma carreira de anos de engenharia e quer abrir uma hamburgueria sem nunca ter feito um hambúrguer. Hoje, se abre negócio por necessidade - comentou Silvia. 

Macaé se encheu não só do dinheiro dos royalties e das empresas que prestaram serviços para Petrobras. Houve quem apostasse no bom momento para investir as economias feitas ao longo da vida. Jean Brunetto apostou no eldorado do petróleo e arrendou, por duzentos mil reais, um restaurante próximo ao principal prédio da Petrobras na cidade. No auge, chegou a vender 420 refeições por dia. Com as demissões e a saída de empresas, vende hoje a metade disso, viu seus concorrentes sumirem e precisa fazer ajustes todos os dias.

- A crise para mim chegou depois. Eu creio que para os amigos chegou antes. Quando estourou, o movimento caiu uns 10%, 20%, você tira um funcionário daqui, outro dali, consegue equilibrar. Hoje, caiu 40%. De dezessete funcionários do restaurante, hoje temos apenas dez - lamentou Jean. 

A derrocada e o desemprego de Macaé  impactam diretamente a vizinha Rio das Ostras. E tornaram tudo mais custoso para a pizzaria de Gledson Braga.  Ele calcula que cada pizza por ele vendida custa 6 centavos a mais porque a cidade não tem rede de água encanada e ele precisa alugar caminhões pipa. E isso poderia ter sido revertido, por exemplo, quando Rio das Ostras aplicou 57,23% dos royalties em investimentos, até 2012.  Mas  o dinheiro não resolveu problemas básicos, incluindo a coleta do lixo.

- Eu precisei criar um recurso dentro da loja para armazenar lixo. Porque não tenho coleta de lixo decente. É uma cidade muito precária em infraestrutura. Por exemplo, eu não tenho água potável, nem aqui, nem na minha residência - contou Gledson. 

A diversificação da economia de Rio das Ostras, que poderia ocorrer via turismo, se perdeu. A calçada de porcelanato na beira da praia, que no passado foi a marca de um município que se pretendeu pujante, hoje está destruída em diversos pontos. A orla está quebrada, enquanto o lixo se acumula pelas calçadas. Quem sofre é a rede hoteleira: o Vilarejo, principal hotel da cidade, fechou as portas. Mas isso não significou aumento da demanda para os hotéis menores: Carla Câmara, proprietária de um no Centro, colocou a família para trabalhar, diante da grave crise motivada pela saída dos trabalhadores de Macaé.

- A crise agora está demais. Porque a gente tinha o respaldo do pessoal de empresas, e não tem mais isso. Eles trabalhavam em Macaé durante a semana, e depois iam embora. Eram prestadores de serviços da Petrobras, mas como aconteceu isso agora com a empresa, não estão mais lá, nem aqui - lamentou a dona do hotel Ostrão. 

Os próximos prefeitos de Campos, Macaé e Rio das Ostras terão o mesmo desafio de lidar com orçamentos cortados e poucas perspectivas de futuro. O emprego, por exemplo, segue caindo em Campos. Em 2015, quase cinco mil vagas foram perdidas. Neste ano, cerca de 1.700 postos de trabalho já foram extintos. O cenário prejudicou Gledson, que planejava neste ano iniciar o serviço de entregas para pizzaria.

- Tinhamos plano de expansão já para 2016, mas a instabilidade financeira, econômica e política da região nos fez frear o projeto, repensar um pouco, e talvez a gente mude um pouco a ideia - disse Gledson. 

Enquanto ele pensa em alternativas, as prefeituras também querem um recomeço. Um caminho, apontado pela Firjan em estudo recente, prevê diversas ações imediatas para ajudar na fuga da crise. O plano menciona a duplicação do trecho da BR 101 entre Rio e Campos, e o aumento da conexão com o Porto do Açu, em São João da Barra. A federação lamenta, por exemplo, o abandono das obras do Complexo Logístico Industrial de Barra do Furado, em Quissamã, que poderia ser uma alternativa para a combalida economia do estado. Fernando Aguiar, presidente da Firjan para o Norte Fluminense, afirma que existem diversos gargalos no complexo industrial da região Norte.

- O distrito precisa de acesso, de acesso a energia estável, com qualidade e estabilidade. É um problema da nossa região, a instabilidade da nossa região é um problema, e a Firjan está acompanhando todos os distritos industriais do estado - enumerou Fernando. 

Enquanto as placas de vende-se e aluga-se se multiplicam no Norte Fluminense, o Rio tem no desaquecimento da economia uma das principais facetas da crise. Desde o começo do ano, os servidores estaduais convivem com atrasos de salários e o governo tem sofrido arrestos em suas contas. Além disso, setores prioritários, como saúde e segurança, sofrem cortes.


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