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Economia
'Freiras' ganham milhões com produtos de maconha e exportam até ao Brasil
PUBLICADO POR: LEONARDO FERREIRA | PORTALOZK.COM - 17/03/2019 - 14:40

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Numa tarde chuvosa de fevereiro, irmã Alice trabalhava na cozinha enchendo um grande aquecedor de sopa elétrico com potes de óleo de coco. Numa gaveta, guardava um caderno apelidado de "bíblia" para lembrar as receitas. Na geladeira, que ela chama de seu "armarinho de remédios", mantinha dezenas de sacos transparentes que revelavam seu ingrediente mais precioso: maconha.

Não é uma maconha qualquer, assim como irmã Alice tampouco é uma freira qualquer. Na verdade, ela é judia, mas fez votos há quase dois anos para a ordem da Sisters of the Valley (irmãs do vale), um grupo de ativistas feministas que produzem remédios feitos de canabidiol (CBD), a substância não psicoativa da planta usada para fins medicinais.

Por ano, vendem US$ 1,1 milhão (R$ 4,2 milhões) em produtos, como pomadas e óleos, enviados para todos os cantos do mundo --inclusive ao Brasil.

Ainda que a maconha na geladeira não dê nenhum barato, por ser forte em CBD e ter quase nenhum THC (que é a substância psicoativa), irmã Alice, 52, gosta de compartilhar um baseado tradicional ao lado de suas irmãs no final do expediente. "A gente faz um chá, acende um e relaxa. Tarde da noite, pegamos algo mais forte, um concentrado ou uma cera. A gente dorme melhor", explica ela ao UOL.

Formadas há quatro anos no centro rural da Califórnia, as Sisters of the Valley acabaram conhecidas como as "weed nuns", ou "freiras da maconha".

Apesar de se vestirem como tal, elas não têm nenhuma filiação com religião e explicam que são "revivalistas das beguinas", mulheres independentes que vieram antes das freiras católicas. Elas moravam juntas em comunidades perto dos castelos europeus e cuidavam dos mais pobres e doentes.

A fundadora do grupo californiano, irmã Kate, explica que não quer ofender ninguém, só manter um estilo de vida sereno e ajudar.

"O principal mal-entendido sobre nós é achar que rezamos para a planta. Cannabis não tem nada a ver com nossa espiritualidade", afirma, em seu escritório, numa das duas casas do terreno onde trabalham outras cinco irmãs.

"A planta nos permite ter um estilo de vida voltado ao nosso ativismo e à nossa espiritualidade. É assim também com sálvia branca, cúrcuma, gengibre e outras plantas que colocamos nos produtos."

Celibatárias de poucas regras
Irmã Kate e irmã Alice são celibatárias, embora não seja obrigatório para entrar na ordem. De fato, há poucas regras e três crenças básicas: organizar a vida de acordo com o calendário lunar, ter compaixão pelas pessoas e acreditar no "místico e mágico do outro lado". "É algo que não entendemos direito no mundo físico, mas sabemos que existe", explica irmã Kate, 59.

Um novo lote de produtos é feito a cada lua nova, na cozinha da casa principal, conhecida como "abadia".

Irmã Alice deixa a maconha e o óleo de coco cozinhando em fogo baixo por três horas no aquecedor de sopa ("meu caldeirão", diz), depois filtra e inclui óleos essenciais e cera de abelha.

No final, enche dezenas de potes de vidro com a substância líquida, que eventualmente esfria e vira uma pomada amarela. O pote ganha então etiqueta e é selado.

A maconha vem da própria plantação do terreno, feita uma vez no meio do ano, e também de outras fazendas orgânicas certificadas.

"Organizar a vida pelos ciclos da Lua e fazer nossos parceiros comerciais entrar nessa agenda é um lembrete dos presentes do Universo. Dar atenção aos ciclos da Lua é dar atenção à mãe natureza e às mulheres. Nossos corpos são influenciados fortemente pelas energias da Lua", diz irmã Kate.

Antes de serem enviados pelos correios, os produtos passam por um teste de laboratório e são abençoados com uma reza que elas mesmas inventaram.

Na lua cheia, há uma cerimônia no quintal ao redor de uma fogueira. "Convidamos pessoas de vários lugares e fazemos um banquete. Sempre tem discursos ativistas, cantorias e astrologia às vezes", conta irmã Alice.

Na sala ao lado da cozinha, está irmã Sierra, 57, que trabalha no computador com atendimento ao cliente. Ela conta que foi freira católica por mais de dez anos, mas largou a ordem franciscana ao sofrer abusos, décadas atrás. A maconha surgiu na sua vida quando decidiu parar com a medicação para depressão e ansiedade. "Foi uma progressão normal, sempre me interessei por remédios naturais", diz.

Freira gângster?
A roupa de freira veio como ato político, em 2010. Irmã Kate estava em casa planejando com seus sobrinhos participar dos protestos do Occupy --movimento internacional que fez oposição à desigualdade social e econômica-- em sua cidade, Merced (Califórnia), quando viram a notícia do Congresso americano classificando a pizza servida nas escolas como "vegetal".

A tia brincou: "Bem, se pizza é vegetal, então eu sou uma freira". Os sobrinhos incentivaram: "Você devia ir de freira no Occupy. A gente sabe que você se sente como uma". Na época, ela trabalhava com pessoas carentes da região, levando remédios e ajudando com compras e outros serviços.

Numa caixa de fantasias antigas de Halloween, ela achou uma de freira e assim foi. No movimento, acabou conhecida como "Irmã Occupy".

Um lado menos doce de irmã Kate é abordado no documentário sobre a irmandade "Breaking Habits", que estreia nos EUA em abril. "Fico feliz com o sucesso do filme nos festivais. Pessoalmente não gostei, me fez parecer muito gângster", disse. "Parece um 'Pulp Fiction' de freiras chapadas."

Apesar de ser contra armas, irmã Kate comprou uma espingarda e aprendeu a atirar em 2014 para proteger sua primeira plantação de maconha, num lote com outros plantadores ilegais. "Fiz um acordo com o Diabo", disse. "Não queriam deixar eu plantar com eles, mas toparam quando falei que cuidaria da segurança."

Por dois meses, ela dormiu num trailer de olho nas plantas e se revezava com um de seus dois filhos e um amigo. Numa noite, o local foi atacado, e seu veículo levou uma saraivada de tiros. Irmã Kate sobreviveu e colheu o que os bandidos não levaram, cerca de nove quilos de maconha CBD, equivalentes a US$ 60 mil (R$ 229 mil). "Quase morri, mas pelo menos fiz o suficiente para começar um grande negócio."

Clientela brasileira
O grupo estima ter 50 clientes brasileiros que já compraram mais de uma vez através de seu site (www.sistersofcbd.com) ao longo dos seus quatro anos.

No Brasil, três mulheres querem lançar um braço do projeto, mas não divulgam suas atividades, já que a droga é ilegal no país. Elas não moram na mesma cidade e querem agregar mais mulheres simpatizantes da causa.

"Tenho prescrição médica para o uso e não posso dar mais detalhes sobre isso, apenas que estou fazendo algumas alquimias", disse por e-mail irmã Flora, brasileira que visitou as Sisters of the Valley por uma semana em 2018.

"Fui lá pela planta e pela causa. Elas são feministas, ativistas, pacifistas, anarquistas. Sou tudo isso", continuou. "São mulheres inteligentíssimas, que passaram por situações limites em suas vidas e renasceram através dessa irmandade." UOL


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